sábado, 13 de fevereiro de 2010

O Ser ou Não Ser dos Lanifícios

A indústria dos Lanifícios da Covilhã iniciou o seu caminho em direcção à extinção mais ou menos quando o Pelourinho – a designação tradicional do seu centro urbano – deu lugar à moderna Praça do Município; a primeira construção a assinalar essa nova realidade, foi o edifício dos CTT inaugurado no ano de 1950.

O momento económico na Covilhã era então era então de grande dinamismo empresarial. Nos anos 50 a economia libertara-se finalmente das restrições impostas pela II Guerra e vivia-se um surto de criatividade produtiva. Cristian Dior impusera a sua moda designada por “New Look” e isso também significava para a indústria têxtil, um aumento significativo da procura. O “New Look” vinha exigir que metros e metros de tecidos fossem utilizados para confeccionar um vestido segundo a moda. Mary Quant e as mini-saias, felizmente, para a economia têxtil ainda estavam distantes no tempo.

Entretanto tinham surgido no mercado as fibras têxteis artificiais e sintéticas, na forma de filamentos contínuos, ou cortadas a medida conveniente para poderem ser misturadas com as fibras naturais. Os artefactos provenientes destas misturas, perdiam naturalmente algumas das características dos têxteis naturais, mas também acrescentavam outras, particularmente importantes em determinado tipo de produtos têxteis: maior durabilidade e possibilidade de obter fios e tecidos mais finos, bom comportamento mecânico perante as máquinas. Para além disso havia também uma relação custos-benefícios mais favorável em relação aos “têxteis puros” (hoje dir-se-ia ecológicos).

Confrontada com o novo paradigma comercial e estratégico, para a indústria dos lanifícios local tinha chegado o momento de tomar importantes decisões para o seu futuro, quiçá para a sua própria sobrevivência. Ou se mantinha fiel à manufactura da lã e dos seus subprodutos, ou optava por uma solução híbrida, correndo o risco de se descaracterizar ao miscigenar-se progressivamente com as novas matérias primas têxteis. Como nos é próprio, a solução adoptada, depois de muita teorização, foi – nenhuma, deixar correr. Claro que daí e como resultado, começou a sair dos Lanifícios um produto têxtil incaracterístico facilmente produzível em outras partes do mundo.

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