Nós por cá tudo bem. Pela Praça do Pelourinho continuavam a passar as pessoas do costume. Um pouco por toda a cidade as pessoas, rotineiramente conversavam sobre os mais diversos assuntos de actualidade local e nacional. Nada parecia indiciar, nos princípios naquele ano de 1939, alguma preocupação especial nas pessoas, em relação a uma tensão internacional latente que se ia materializando em muitos pontos da Europa.
Na sala de leitura do Ginásio da Covilhã, comentava-se uma local do Século onde a par das sazonais notícias de Inverno sobre os malefícios que a gripe estava a causar em muitos locais, podia ler-se que o mal afligia também a Rússia onde a imperatriz Catarina II teria escrito a um seu familiar no estrangeiro, “todo o meu império está a espirrar!”; durante uma epidemia de gripe, o rei Afonso XIII de Espanha foi a primeira pessoa atingida, razão porque a doença foi designada com o nome de “gripe espanhola”, variante da doença que viria a ser tragicamente conhecida, sobretudo sob o nome de “pneumónica”.
A imprensa da cidade por sua vez dava destaque à inauguração das instalações da Comissão Municipal de Turismo, em plena Praça do Pelourinho no prédio que faz esquina com a Rua Direita actualmente comendador Campos Mello. Cerimónia importante que contou com a presença do Governador Civil António Pinto, da Câmara representada pelo Dr. Luís Tavares Batista e Alexandre Espiga Júnior; o tenente José Amaro chefe da Polícia, foi também um dos convidados que esteve presente. À Comissão propriamente dita presidia o Dr. José Ranito Baltazar que, na cerimónia se fazia acompanhar por outros membros: Alfredo Santos Marques e o Prof. António Esteves Lopes.
António Nobre, foi um homem notável que se estabeleceu na Covilhã. Para além de ser na época o fotógrafo mais importantes da cidade (onde parará o espólio fotográfico deste artista?), a sua cultura musical marcou a vida artística da época em que viveu entre nós. Foi regente do Orfeão da Covilhã, a sua esposa D. Laura Nobre era uma pianista credenciada pelo Conservatório de Música do Porto e uma das filhas, fez estudos como cantora lírica. Na época para que se faz o enfoque, António Nobre levava a cabo mais uma das suas realizações artísticas: a 7.ª edição do Concurso de Arte Fotográfica.
nas instalações do Grémio do Comércio. Concorrem 33 expositores com cerca de 200 fotografias. António Nobre, pela animação cultural que transmitiu à Covilhã, merecia também ter o nome ligado à sua toponímia. Não está. Mas está a Catarina Eufémia e outros …
Os polícias em regra não têm grande simpatia entre as populações. Mais ainda naqueles tempos, em que a instrução exigida aos agentes era muito rudimentar e o seu recrutamento feito sobretudo nos meios rústicos pobres. O Intendente Pina Manique, o polícia supremo do Marquês de Pombal, também não era uma figura muito querida em Lisboa e no país; entretanto deixou atrás de si uma obra notável que ainda hoje está bem à vista. Quem mandava na Polícia da Covilhã, era então o tenente Amaro. Estimado por muitos, detestado por outros, o seu saldo de popularidade era francamente positivo. O Pelourinho assistiu à imponente manifestação social que constituiu o seu funeral.
O tenente Amaro entre outras virtudes, tinha a de patrocinar entusiasticamente a construção da Colónia Infantil da Montanha. As muitas contribuições voluntárias que iam surgindo – lê-se aqui na imprensa local que «Lopes & Podão» enviam 10 mantas e o Sindicato dos Operários 50$00» - eram enviados ao Comandante da Polícia. Outras contribuições para a construção da colónia de férias para os filhos dos trabalhadores têxteis, não eram assim tão voluntárias. Por exemplo: duas vizinhas engalfinhavam-se, insultavam-se e provocavam escândalo público. A polícia intervinha e levava-as para a esquadra. O tenente Amaro, perante a diminuta dimensão do caso entendia geralmente não dever sobrecarregar os tribunais com mais um processo: Perguntava-lhes: - Querem fazer as pazes, voltar para casa e prometerem-me que não voltam a fazer escândalo público? Se a resposta era “sim”, a penalização para elas determinada pelo tenente Amaro provavelmente seria uma contribuição de 5 escudos para a Colónia Infantil da Montanha.
Enquanto isso, algures na Europa estavam a criar-se as condições que iriam levar a um conflito bélico que mobilizaria mais de 100 milhões de militares dos quais cerca de 70 milhões viriam a morrer. Era como se ouvisse ao longe os tambores a rufar …
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