sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Sobre Caveiras de Burro e de Imortais que ... Morrem!


Naquele Fevereiro de 1939 um frémito de emoção perpassava as páginas do jornal católico Notícias da Covilhã, bem evidente nos seus títulos de caixa alta: 
“Faleceu o papa Pio XI.”. 

Compreende-se. Já podia deixar algo confusos, alguns leitores sem capacidade para lerem o sentido figurado das afirmações, outras peças jornalísticas que vieram a ser escritas sobre assunto do momento na comunidade católica. Uma delas,  publicada na edição seguinte do semanário, era encimada por um título onde se lia “Pio XI Pontífice Imortal”.  Entende-se a intenção subjacente à afirmação, mas – o português é muito ingrato como diria o humorista Herman décadas depois – é suposto que se alguém é verdadeiramente imortal, não morre. Mas vamos adiante.

Mário Quintela, um homem notável que, não sendo natural da Covilhã, aqui viveu uma grande parte da sua vida, deixando o nome ligado a várias realizações na cidade – poucas, e disso ele queixava-se –, era o que hoje se poderia chamar um “opinion maker” local. Escrevia regularmente no Notícias da Covilhã, de que chegou a ser Director. Numa das suas crónicas da época,  entendeu detalhar a origem de uma lenda que corria, na cidade: Haveria – diziam os mais velhos - enterrada algures na Praça do Pelourinho, a caveira de um burro que possuía o maléfico poder de impedir todo o progresso na Covilhã.

A lenda, segundo Mário Quintela, viria do tempo das Invasões francesas. Num certo dia, um coronel do exército de Junot entrara na Covilhã com o seu destacamento militar. Vinham cansados, estropiados e o coronel ao passar pelo vila do Paul, teria ali “requisitado” à força um burro – já não em muito bom estado de saúde – para o conduzir até à Covilhã. Ao transpor o arco do Pelourinho à frente das suas tropas, o burro foi-se a baixo, pregando com os costados do coronel na calçada, causando-lhe vários ferimentos e até a fractura de uma perna.  O coronel ficou tão furioso com a humilhação, que evocou os seus deuses para que amaldiçoassem para sempre a terra que fizera a sua desgraça, enquanto permanecesse nela a caveira do burro que, logo ali deu ordens para que fosse sepultado em local secreto.  

A caveira nunca foi encontrada e o progresso da Covilhã, foi algum certamente, mas talvez não tenha sido o que podia ser, porque, algures, a caveira do burro, está a cumprir a maldição …

Sem comentários:

Enviar um comentário