Naquele ano de 1947 pode dizer-se que ao longo de várias noites meia Covilhã passou pela Praça do Pelourinho e subiu as escadas de acesso ao Cine-Teatro para ver um dos filmes portugueses com mais sucesso de sempre: "Capas Negras".
A película de Armando de Miranda, um realizador já com alguns êxitos na sua carreira, tinha um argumento centrado no ambiente da vida dos estudantes da Universidade de Coimbra, dos seus amores e desamores com as “tricanas” – raparigas do povo da cidade coimbrã. Era também uma homenagem aos dois grandes estilos de fado português: o de Coimbra e o de Lisboa.
O grande sucesso do filme – estivera seis meses em cartaz quando da sua estreia no cinema Condes em Lisboa e fora visto por cerca de 200.000 pessoas - vinha dos seus protagonistas principais, Amália Rodrigues e Alberto Ribeiro, dois cantores de sucesso, que interpretavam, para além dos seus papéis no filme - Amália fazendo a Maria de Lisboa e Alberto Ribeiro o estudante de Direito dr. José Duarte -, mas sobretudo cantando as belíssimas canções do compositor Raul Ferrão que constituíam a banda sonora. Uma dessas músicas, “Coimbra”, viria a ser o maior êxito de sempre da música portuguesa até ao presente, com interpretações e arranjos de quase todos os grandes artista e orquestras internacionais, rebaptizada de “Abril em Portugal".
O filme estreou comercialmente no cinema Condes, Maio de 1947; só em Lisboa esteve 6 meses em cartaz, com 350 exibições e cerca de 200 mil espectadores, no que foi um dos maiores êxitos de bilheteira de sempre no cinema português. Em papéis complementares eram protagonistas de Capas Negras, nome conhecidos da época (e alguns de hoje) com Artur Agostinho, Vasco Morgado, Barroso Lopes, Humberto Madeira etc.
De volta à actualidade desse tempo, a situação no país e na Covilhã, continuava muito difícil, marcada pelo período do pós guerra. Persistia o racionamento alimentar. Cada pessoa dispunha de uma senha de racionamento mensal com a qual podia adquirir 800 gr. de açúcar, 350 gr de arroz; 250 gr. de sabão, 1 dl. de azeite.
Como nem só de alimentos vive a humanidade, a Drogaria Pedroso publicita entretanto o seu “caspicida Star”, à base de iodo, rum e quina, que custa 60$00 o litro; quem quisesse comprar ou vender um “fato usado” podia procurar no “Adelo Espanhol “, «que fica por detrás da loja do Leão e antes da taberna do Benito», como se lia no anúncio.
Uma vez em Lisboa, não podia deixar de se notar a novidade. Acabados de chegar da Inglaterra, percorriam, agora a cidade os novos autocarros de dois pisos. Na Covilhã começava a falar-se na hipótese de passar a haver também transportes públicos urbanos na cidade; diziam os entendidos, que a solução para aqui seriam os “troleybuzes”. Estes nunca chegaram.
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