sábado, 20 de novembro de 2010

A “estátua” da PIDE revisitada …(3)


(...continuado)
Ao ir ressuscitar “a tortura da estátua” no livro – trago do meu arquivo de memórias, uma circunstância passada com o antigo presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan. Este que passou a II Guerra Mundial em Hollywood, descrevia com toda a nitidez o papel que desempenhou na libertação de vítimas dos campos de concentração nazis. Pelo facto de viver no mundo do cinema, confundia filmes que vira com uma realidade que não vivera. Em muitas ocasiões contou uma história épica de coragem e sacrifício ocorrida durante essa guerra. Só que esta nunca existiu, mas sim, era o argumento do filme “A Wing and a Prayer”.

O livro do JAP pode, como ele afirma, não ter qualquer ficção (não o li, não posso contradizê-lo), mas as palavras que proferiu à cerca do mesmo, essas sim, têm, ficção, e muita. Afirmo-o, porque “eu também estava lá!” Estava lá, por exemplo, no comício do Humberto Delgado no Cine Teatro da Covilhã. Não havia cordão de polícia algum à saída, não vi ninguém ser maltratado ou sequer preso. Todo esse ímpeto de revolta e ânsia de liberdade por parte da juventude, ocorria aonde? Eu também era jovem e aí que me movimentava.

A “malta” estava mais preocupada com os resultados do futebol do que com a política. Esta, só chegava à noite com os jornais vespertinos que o Leal vendia sob as arcadas da Câmara. Os soldados que estavam no Batalhão de Caçadores 2, realmente saíram para a estrada a vitoriar o general Delgado quando passou na Marquês d’Ávila e Bolama (eu estava lá!). Fora esses pequenos incidentes o dia-a-dia decorria normalmente.

Havia por cá os políticos do “contra”, quase todos pessoas estimadas na terra. Recordo o Dr. Raposo de Moura, o Jerónimo Sena, o Augusto Lopes Teixeira e outros. Por muito que custe ouvir a certas pessoas, naquela altura pouquíssima gente fazia ideia de quem era o Dr. Álvaro Cunhal. O país conheceu-o (atenção: falo do “segundo” homem mais importante da nossa História a fazermos fé no concurso da TV), apenas quando Mário Soares o promoveu e apresentou ao país, indo abraçá-lo à estação de Santa Apolónia quando, vindo do estrangeiro, chegou a Portugal em 1975.

Tortura da estátua? Ui! Mas isso ainda existe hoje. Que outro nome dar à longa espera de pé, a que nos sujeitam muitos serviços do Estado? No momento em que pretende personalizar e actualizar a memória da sua “dita” tortura -, método da PIDE que se tem tentado esconder como diz (aqui só posso sorrir) -, peço-lhe desculpa da rudeza, mas acho que o JAP, que é uma pessoa que eu estimo pessoalmente e a quem reconheço o grande dinamismo cívico, que, à falta de melhor indicador, faz de si a pessoa que mais listas eleitorais de associações locais de todo o tipo encabeçou (e … foi protagonista dos conflitos resultantes), não tinha estatuto pessoal ou político, nem para a PIDE nem no PCP para merecer essa forma de tortura. Lamento, mas a verdade tem que ser dita e para esse tipo de martirológio, eu já dei! (Fim)

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