Quando as crises começaram a assediar os Lanifícios, que na época já era um sector difuso e mal caracterizado, com o desemprego e as falências a sucederem-se, o diagnóstico dos sábios locais foi uma vez mais uma sucessão de disparates.
Os Lanifícios tinham, diziam eles, sobretudo um défice de dimensão crítica, numa economia de escala. A solução passava por aumentar a dimensão crítica das empresas existentes através de fusões, concentrações etc. Produção, era a palavra-chave para o sucesso! Crescimento, produtividade, gestão por objectivos já! - “The Big is Beatiful”.
É com um sorriso que se recordam as pequenas fábricas têxteis com os arcaicos teares de lançadeira que trabalhavam a cadências da ordem das 90 passagens (de lançadeira) por minuto mas que, numa obsessão pela produtividade, e num “taylorismo” tardio, gastaram horas e esforço. para em harmonia com as novas modas industriais, colocaram no imediato os velhos teares aos pares e vis-a-vis para – idealmente, o que raramente acontecia – um só operário trabalhar com as duas máquinas.. Eureka!
O adversário económico, que punha em risco a continuidade dos Lanifícios diziam, chamava-se Terceiro Mundo e os seus salários baixos. A ninguém ocorreu esta verdade comezinha: a têxtil na generalidade é uma indústria de mão de obra intensiva apropriada para o arranque económico de países atrasados ou em via de desenvolvimento. Mas a indústria de Lanifícios clássica e sobretudo a portuguesa, não é dependente do preço da mão-de-obra, mas sim da qualidade dessa mão de obra. Cito um autor muito recente:
«Na indústria de lanifícios, ao contrário do que acontece com a de algodão, a concorrência desenvolve-se sobretudo entre países industrializados. A especificidade do produto final, normalmente fabricado em pequenas séries, com incorporação de design e frequentes adaptações à moda e ao seu preço, impede que se destine a um produto massificado. Por outro lado a necessidade de mão-de-obra qualificada e experiente, não facilita a relocalização da produção para países que apenas têm para oferecer baixos de mão-de-obra. A União Europeia continua, assim, a ser o principal produtor de lanifícios, destacando-se entre os países membros, a Itália, a Alemanha e a França, que têm igualmente um papel relevante na produção mundial (in A Geografia da Indústria de Lanifícios na União Europeia – Iva M. Pires)»
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