segunda-feira, 15 de novembro de 2010

"The Small is Beatiful"? Quando a Covilhã disse "NÃO!


Quando as crises começaram a assediar os Lanifícios, que na época já era um sector difuso e mal caracterizado, com o desemprego e as falências a sucederem-se, o diagnóstico dos sábios locais foi uma vez mais uma sucessão de disparates.

Os Lanifícios tinham, diziam eles, sobretudo um défice de dimensão crítica, numa economia de escala.  A solução passava por aumentar a dimensão crítica das empresas existentes através de fusões, concentrações etc. Produção, era a palavra-chave para o sucesso! Crescimento, produtividade, gestão por objectivos já! - “The Big is Beatiful”. 

É com um sorriso que se recordam as pequenas fábricas têxteis com os arcaicos teares de lançadeira que trabalhavam a cadências da ordem das 90 passagens (de lançadeira) por minuto mas que, numa obsessão pela produtividade, e num “taylorismo” tardio, gastaram horas e esforço. para em harmonia com as novas modas industriais, colocaram no imediato os velhos teares aos pares e vis-a-vis para – idealmente, o que raramente acontecia – um só operário trabalhar com as duas máquinas.. Eureka! 

O adversário económico, que punha em risco a continuidade dos Lanifícios diziam, chamava-se Terceiro Mundo e os seus salários baixos. A ninguém ocorreu esta verdade comezinha: a têxtil na generalidade é uma indústria de mão de obra intensiva apropriada para o arranque económico de países atrasados ou em via de desenvolvimento. Mas a indústria de Lanifícios clássica e sobretudo a portuguesa, não é dependente do preço da mão-de-obra, mas sim da qualidade dessa mão de obra. Cito um autor muito recente: 

«Na indústria de lanifícios, ao contrário do que acontece com a de algodão, a concorrência desenvolve-se sobretudo entre países industrializados. A especificidade do produto final, normalmente fabricado em pequenas séries, com incorporação de design e frequentes adaptações à moda e ao seu preço, impede que se destine a um produto massificado. Por outro lado a necessidade de mão-de-obra qualificada e experiente, não facilita a relocalização da produção para países que apenas têm para oferecer baixos de mão-de-obra. A União Europeia continua, assim, a ser o principal produtor de lanifícios, destacando-se entre os países membros, a Itália, a Alemanha e a França, que têm igualmente um papel relevante na produção mundial (in A Geografia da Indústria de Lanifícios na União Europeia – Iva M. Pires)»

A indústria de Lanifícios seguiu pelo caminho errado?  Sim e não. Para a economia regional e para os milhares de trabalhadores que foram perdendo os seus postos de trabalho, pouco interessa saber se hoje se produzem mais metros do que nos tempos em que havia pleno emprego nos Lanifícios, a resposta é óbvia. Para os que com sabedoria e calculismo apostaram no erro e na ignorância dos seus concorrentes, assistindo à sua eliminação, até ficarem finalmente numa posições hegemonia no mercado dos lanifícios, o caminho foi o certamente o melhor. Os monopólios tem má imagem política, mas trazem imensas vantagens a quem finalmente os detém.

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