quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Despediram o Gíria !...


Aquele ano de 1881 até acabou em beleza. Beleza no sentido literal do termo. A Sociedade de Geografia  abre uma exposição de Quadros Modernos. 

O núcleo duro dos expositores, onde se podiam encontrar nomes como Silva Porto e Malhoa, pretendia mostrar que, na pintura do naturalismo e da paisagem, havia novas formas e novas técnicas de abordagem ao tema. Infelizmente não me chegaram notícias da aceitação e do êxito da exposição, mas vamos pressupor que deve ter corrido bastante bem.

Em torno da Praça do Pelourinho porém, o tema dominante das conversas nada tem a ver com pintura ou com paisagens. Tem a ver com violência laboral. Numa sucessão de acontecimentos originados por uma greve na Fábrica Velha, ocorre o despedimento do tecelão José Gíria homem de esquerda e futuro industrial dos lanifícios que, ao que se diz, teria cometido um erro numa teia. 

Então, alguns operários fazem “uma espera” no sítio da Fonte das Galinhas ao Mestre Geral da fábrica sr. Thoratier, que pelos vistos residiria ou passaria regularmente por ali, e de súbito se vê assaltado por um grupo de operários de ambos os sexos. Do incidente, fica apenas o facto de que o referido Mestre Geral seria ferido no pescoço devido a um tiro de pistola disparado contra ele. Se o autor ou autores do crime foram identificados e punidos, também não há informação. Não me admira que já naquele tempo, a justiça demorasse muito a seguir o seu curso.  

Na Covilhã e zona têxtil adjacente, discretamente, mas com o necessário rigor e eficiência, decorria um Inquérito Industrial, elemento de trabalho valioso para ser feito o diagnóstico da indústria predominante na economia local. Era o momento.  A partir de 1850 inicia-se com o período do “Fontismo”, também as bases da estrutura capitalista moderna no nosso país que vem marcar uma modificação sensível na orientação económica portuguesa, não só no eixo económico e financeiro, mas também na definição de um novo quadro jurídico, populacional, cultural e técnico. Desenvolvem-se vias de comunicação e, nomeadamente, o caminho de ferro.

O Inquérito Industrial de 1881 espelha em termos globais, um efectivo desenvolvimento da indústria moderna em Portugal, que se traduz pelo aumento dos estabelecimentos fabris com mais de 10 pessoas, do número de operários envolvidos nos vários sectores e por um incremento no nível tecnológico onde porém, só 9 empresas tem engenheiros nos seus quadros, 6  dos quais estrangeiros e apenas 2 portugueses.
Quando os relatores do Inquérito se têm de pronunciar sobre as causas profundas do nosso relativo atraso em questões industriais, recorrentemente são apontadas as falhas de formação técnica, a ausência de contabilidade nas empresas, concluindo pela necessidade de um maior esforço no desenvolvimento da instrução.

O relatório, na parte respeitante à Covilhã, referiria especificamente : “existem nas fábricas da Covilhã bons teares Jacquard, tanto mecânicos como manuais e teares comuns; há 13 teares Jacquard mecânicos,  44 teares mecânicos comuns e 658 teares comuns manuais, ao todo, 57 teares mecânicos e 802 teares manuais. Vê-se pois que a tecelagem mecânica relativamente à manual é bastante diminuta. Os operários têm uma grande aptidão industrial, evidentemente formada pela educação das crianças dentro das fábricas. Esta instrução profissional prática faz com que o operário da Covilhã se afaste de se entregar a outros mesteres que não sejam os da fiação e tecelagem  e neste facto reside a grande potência industrial da cidade"

Segundo o relatório, haveria na Covilhã à época, 73 fábricas e 2715 operários. Os números finais do  Inquérito Industrial de 1881 apresentaria  para o universo têxtil nacional - 1.247.260 Fábricas, Oficinas e Pequenas Oficinas;  90.000 Operários; 9.000 cavalos de força-motriz utilizada.

1 comentário:

  1. Amigo Soares Gonçalves

    Foi c/imenso prazer que tenho noticias tuas.
    Mais uma vez li e apreciei o artigo do GIRIA.
    NÓS QUE CONHECEMOS AS FIGURAS DUMA ÉPOCA DA QUAL
    FIZEMOSM PARTE É BOM QUE HAJA ALGUÉM QUE A LEMBRE
    cONTINUA. uM ABRAÇO DO AMIGO
    M.MACHADO

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