Não ma magoem lá muito, porque ela tem andado adoentada!
Pelo Pelourinho, mais cedo ou mais tarde, acabava por passar toda a gente que vivia ou vinha à Covilhã. Centro privilegiado de cavaqueira, aqui falava-se de tudo. Como não seria de estranhar, entre muitos outros relatos de acontecimentos locais, as histórias picarescas que corriam no “boca-em-boca” da cidade, ali iam parar. Uma vez que a esmagadora maioria dos participantes nas conversas eram homens, a linguagem utilizada continha o “vernáculo” nacional e ainda algum caracteristicamente local. Essa linguagem é em si um património local, que até hoje ninguém se ocupou em fazer recolha. É assim como uma espécie de “folclore da linguagem” covilhanense, anos 50/60.
No poste “Sapato Apertado Não”, http://tinyurl.com/3xsrvjb ,tive ocasião de recordar uma dessas histórias que, com a reserva de factualidade que se tem de atribuir a tudo o que vem da fonte do “ouvi dizer…” correu a cidade: o famoso “39 ou 40”. Mas há outras do género, que chegaram até mim nesses anos do meio do século…
Havia um casal (gente modesta, operários têxteis ambos), em que a mulher – que acabou por ter o nome de guerra de “A Chatice”, porque repetia o termo recorrentemente e a despropósito - procurava ganhar uns dinheiritos extra oferecendo o corpo a uns quantos senhores, (…tudo gente do maior respeito, garantia ela às vizinha que sabiam do negócio).
A originalidade está no processo utilizado. Os tais senhores e, já agora também os amigos dos senhores e por fim os amigos dos amigos – passavam de automóvel na rua onde a dama vivia a uma determinada hora previamente combinada, através de uma espécie de “angariadora” – vulgo, alcoviteira, que recebia uma determinada quantia como se compreende. Tocavam a buzina e a senhora vinha. Mas, sempre acompanhada do marido, que a conduzia até ao carro, assim como quem vai fazer um reconhecimento do “ambiente” e das pessoas (geralmente era mais do que uma) que iam participar na operação. Então ela entrava para a viatura (que por vezes até era um táxi), partiam e o marido voltava para casa.
Umas pessoas que eu conheci, utilizaram estes “serviço” através de “marcação” prévia com a alcoviteira. O casal lá se aproximou do carro, olhou as pessoas, ela entrou e antes de o automóvel partir rumo a um paraíso algures num local ermo, o homem olha os ocupantes de frente e com m ar compungido faz-lhes um pedido: - “Olhem, por favor não ma magoem lá muito, porque ela tem andado adoentada!”
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