Com cara de poucos amigos, atravessa a Praça do Pelourinho um cidadão da Covilhã, Ariel da Silva Melo e Castro de seu nome. Dirige-se à esquadra da Polícia para apresentar queixa, contra um seu vizinho, Manuel Infante a quem acusa de lhe ter furtado uma galinha e um galo
duma capoeira que o queixoso possui no quintal. Baseia a sua suspeita no facto de aquele vizinho ter, no dia seguinte, convidado uns amigos para um lanche onde apresentou canja de galinha. A data registada na queixa pela polícia, referia um dia do mês de Fevereiro do ano 1952.
Pelo Pelourinho ouviam-se ecos de conversas onde imperava o desagrado e a suspeição de algumas pessoas: mais exactamente daquelas que possuíam um automóvel, que, refira-se, eram muito poucas. Na origem estavam editais da Câmara colocados pela cidade que avisavam os proprietários de veículos automóveis de que deveriam obrigatoriamente manifestá-los na respectiva Secretaria.
A medida não era de modo algum arbitrária como se entende, e visava um objectivo concreto: a possibilidade de requisição das viaturas particulares para prestarem serviço público, nomeadamente ao serviço do Exército, no transporte de tropas, situação que se viria a verificar algumas vezes, especialmente quando ocorriam "manobras militares". Nesse tempo também o Exército não possuía frota automóvel suficiente para movimentar efectivos militares.
Certa ocasião, estando a tratar de assuntos pessoais numa secretaria do Batalhão de Caçadores 2 da Covilhã, presenciei, a meu lado, um sujeito bem vestido e com o seu “chapéu à diplomata” na mão, a vir dar conhecimento aos militares dessa repartição militar, que a (supostamente demorada) reparação do seu automóvel, tinha sido concluída e que portanto (implicitamente) a viatura estaria disponível perante o Exército.
Ele saiu a seguir, mas eu fiquei ainda o tempo suficiente para ouvir o comentário que dois dos militares da repartição trocaram: - “Sacana, Judeu! Veio agora dizer que o carro já estava reparado, quando soube que as “manobras” (para as quais o carro podia ter sido requisitado) já acabaram. Assim, não só resguardou habilidosamente o automóvel, como, ao vir aqui agora, livra-se da multa em que incorria!”
Um anúncio colocado no Notícias da Covilhã dá conhecimento de que se vendem “teares manuais de maquineta e lisos, devidamente contingentados”. Este "contingentados" esclareça-se, tem a ver com a legislação de condicionamento industrial em vigor, a qual tornava possível a quem adquirisse os alvará de 2 teares manuais, pedir o seu abate e instalar em seu lugar um tear mecânico. Assim iam passando os dias na Covilhã.
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