Uma cama cheia de surpresas...
Conheci também de muito perto uma outra situação hilariante, mas esta, tanto quanto sei, não passou pelo “falatório” em torno do Pelourinho, porque no interesse dos envolvidos e para evitar o escândalo, a história foi discretamente abafada e as vizinhas “linguarudas” nunca souberam o desfecho, ficando a supor que tudo se tinha solucionado através de uma concertação interna entre os protagonistas, o que realmente aconteceu. Que aconteceu?
Num prédio antigo da Covilhã, de três pisos, um casal ocupava o rés-do-chão e um outro casal os dois andares de cima. A certa altura estabeleceu-se intimidade sexual entre a mulher que vivia no andar de baixo e o vizinho de cima. Este vizinho, era uma pessoa com um hábito invulgar; aproveitava todos os momentos que estava em casa após a saída do trabalho, para se meter na cama alegando cansaço físico. Era ali que a esposa, que se mantinha normalmente na cozinha, no piso superior ocupada com as lides domésticas, lhe levava as refeições. O hábito foi sendo consagrado pelo tempo e ninguém, que eventualmente lá fosse a casa, estranhava encontrar o nosso homem na cama.
Com alguma imaginação ele e a vizinha que andava a “comer” começaram a aproveitar-se disso. Então, ela subia sorrateiramente as escadas interiores que levavam do piso térreo ao primeiro andar e… enfiava-se na cama do nosso homem. Quando, por qualquer razão, a esposa descia da cozinha e vinha ao andar intermédio onde se situava o quarto do casal, numa altura em que a vizinha de baixo se encontrava lá dentro da cama, esta encolhia-se o mais que podia dentro dos lençóis, procurando fazer o menor vulto possível para passar despercebida, o que deve ter sucedido vezes sem conta.
Não sei quanto tempo durou a situação, mas esta alterou-se radicalmente quando algumas vizinhas mais dadas a mexericos e suspeições começaram a murmurar entre elas, e esse murmúrio chegou aos ouvidos da esposa do nosso homem cansado e acamado a tempo inteiro, por vontade própria.
Um dia, há sempre um dia, a senhora, com os ouvidos cheios pelas tais vizinhas e pelas suas recomendações e recados para que “abrisse os olhos” para a realidade do que se estava a passar na sua casa (e, digo eu, na sua cama), desceu ostensivamente da sua cozinha e veio ao quarto do marido a pretexto de lhe perguntar qualquer coisa, mas então já com “mil olhos” para os relevos da cama. Algo deve ter visto porque, de sopetão puxou a roupa da cama toda para trás e lá dentro, muito aninhadinha e supostamente seminua, estava a vizinha de baixo.
A história acaba aqui porque eu não sei mais pormenores, mas ao que julgo, o nosso homem cansado e voluntariamente acamado o tempo todo, depois de ouvir da esposa e da família aquilo que só poderemos imaginar, passou a ter uma vida mais activa e saudável, saindo de casa com a frequência que é normal nas pessoas que não têm um antro secreto dentro da própria cama conjugal.